terça-feira, 21 de abril de 2009

Ópera Natimorta

O grande teatro lotado. Penumbra no palco. As luzes acendem. Silêncio. Um cenário gigantesco se revela, ourificado, reluzente. A soprano adentra o palco. Silêncio. Respira uma vez, enche seu abdômen e costelas de ar, de fato apóia. A primeira palavra se mostra apta a sair num canto que promete pôr abaixo. A boca se abre e a língua se articula. Pasmem. Nenhum som. Nada sai. Mais um esforço ela empreende pra que algo na noite seja audível, nada sai. O silêncio grita. As luzes começam a baixar. O maestro discretamente derrama uma lágrima. Hirta, a soprano fixa seu olhar no canhão de luz que está sobre seu rosto. Neste momento só existe ela e sua luz. Nenhuma revelação, nenhum fluxo de consciência, só ela e a luz. Apenas ela e uma radiação eletromagnética que pulsa nas suas células. Quase fotossíntese, agora alimentada.. Os nós do seu vestido começam a desatar sem que ela faça um mínimo movimento. Do seio esquerdo cai uma gota de vida. Seu canto desata. Seu melhor agudo sai sem o menor esforço. As luzes se acendem. Daquilo que significou algo só restam ela e o canhão de luz, este agora apagado. Não há público. No hay banda!!!

Um comentário: